Como as viagens podem afetar a sua saúde vascular?

Patrícia Fraga Paiva
Faculdade de Ciências Médicas e da Saúde de Juiz de Fora – Suprema

Mais de dois bilhões de passageiros viajam em voos domésticos e internacionais por ano, e a previsão é de aumento progressivo devido à construção de novos aeroportos, facilidade de deslocamento e tarifas atraentes em virtude da concorrência entre as empresas do setor. 



As inovações científicas na área da saúde e o conhecimento científico clínico acerca do manejo das doenças cardiovasculares têm favorecido o deslocamento dos pacientes cardiopatas, especialmente os mais idosos, que conseguem viajar por distâncias maiores com mais segurança. 


O acesso facilitado, em decorrência do aumento da expectativa de vida e maior poder aquisitivo e incentivo do governo federal brasileiro, proporcionaram o aumento do número de passageiros idosos em viagens aéreas, no entanto o transporte aéreo apresenta particularidades que o médico generalista deve conhecer, a fim de informar ao paciente, quando o mesmo solicitar. Torna-se primordial que o mesmo seja orientado quanto os fatores responsáveis por complicações e agravamento de situações que anteriormente estavam estáveis, principalmente indivíduos cardiopatas. À medida que aumenta a altitude há uma redução na pressão atmosférica, tornando o ar mais rarefeito, promovendo o estado de hipóxia, que será influenciado por fatores de suscetibilidade individual como o tabagismo, ingestão de álcool, condicionamento físico, taxa metabólica, dieta, emoções, fadiga e doença clínica predisponente.

O impacto da hipóxia será identificado principalmente nos sistemas respiratório, cardiovascular e sistema nervoso central. No respiratório há o aumento da frequência respiratória e profundidade das incursões, a baixa disponibilidade de oxigênio exerce efeito vasoconstritor do leito vascular pulmonar. A primeira resposta do sistema cardiovascular será observada no débito cardíaco aumentado, devido ao aumento da frequência cardíaca e da vasoconstrição seletiva, no entanto o aumento na atividade cardíaca irá exigir maior quantidade de oxigênio e no segundo momento o miocárdio diminuirá a frequência cardíaca e a pressão arterial.Os efeitos da hipóxia no sistema nervoso central estão diretamente relacionados à duração e à gravidade do episódio. Nos estágios iniciais são perceptíveis alterações variáveis do humor, no entanto se houver hipóxia progressiva poderá apresentar confusão mental progressiva, diminuição da percepção sensorial e finalmente, inconsciência. A atividade cerebral cessará e evolui para óbito. 


Os cardiopatas serão afetados principalmente pela hipóxia, aerodilatação e a imobilidade prolongada em posição sentada. A hipóxia pode ser fator de descompensação em casos limítrofes, agravando as condições clínicas preexistentes. A aerodilatação pode, pela expansão dos gases abdominais, restringir a mobilidade diafragmática, agravando a hipóxia. A imobilidade prolongada é fator de risco para desenvolvimento de trombose venosa profunda. 

Poucas são as contra-indicações cardiovasculares para viagens aéreas, porém os pacientes acometidos por infarto miocárdico (IM) não-complicado em menos 2 semanas, IM complicado em menos 6 semanas, angina instável, insuficiência cardíaca congestiva, hipertensão grave descontrolada, cirurgia cardíaca entre 10 a 14 dias, acidente vascular encefálico há menos que 2 semanas, taquiarritmias supraventriculares ou ventriculares sem controle são desaconselhados a viagens aéreas, no entanto ressaltamos que cabe ao médico avaliar a condição individual do paciente e estabelecer conduta. O prognóstico relaciona-se com a estabilidade do quadro isquêmico e quadros descompensados, além da possibilidade de uso de oxigênio durante o voo. Não há contraindicação para portadores de marca-passos ou desfibriladores implantáveis.

A trombose venosa profunda pode ocorrer em passageiros de todas as classes, sejam aéreas ou terrestres, pois se relaciona principalmente com os distúrbios da coagulação sanguínea, doença cardiovascular e imobilização prolongada.

A International Air Transport Association prevê aumento de 2% ao ano no número de usuários do transporte aéreo, ainda assim as emergências e óbitos durante o voo são raras, entretanto quando elas acontecem, cardiopatas são afetados devido aos fatores já mencionados, relacionados à altitude e a particularidades de voos comerciais como a hipóxia, aerodilatação e imobilidade prolongada em posição sentada. 

A emergência mais reportada é a síncope (29%), devido ao consumo de alimentos ricos em sódio, bebidas alcoólicas e desidratação durante o trajeto, seguida pelos distúrbios gastrintestinais e respiratórios (broncoespasmo), angina e crise epiléptica. No entanto, a principal causa de morte são as intercorrências cardíacas. A hipóxia tecidual de altitudes elevadas acelera a atividade simpática, provocando isquemia, arritmia e angina instável (AI). 

Normalmente, pacientes portadores de condições crônicas de saúde viajam sem nenhuma restrição das empresas aéreas, a não ser que haja condição incapacitante evidente ou alguma situação que coloque em risco as condições de voo. 

O passageiro portador de condição de saúde que possa, potencialmente, descompensar a bordo deve ter em mãos relatório médico sucinto de sua condição, manter ao alcance das mãos a medicação de uso diário, além de receber vacinações específicas exigidas pelo local destino da viagem. 

As medidas de prevenção devem ser individualizadas, em função do conhecimento dos fatores de risco presentes. Medidas gerais incluem a recomendação de fazer exercícios de mobilização dos membros inferiores, mesmo em posição sentada. Movimentos simples, como de flexão, dorso-flexão e rotação dos pés, podem massagear eficazmente as panturrilhas, melhorando o fluxo venoso em membros inferiores. Caminhar ao longo da aeronave está indicado.



Patricia Fraga Paiva é acadêmica do 9º período de Medicina da Faculdade de Ciências Médicas e da Saúde de Juiz de Fora, Suprema/MG, Presidente Fundadora da Liga Acadêmica de Patologia Aplicada, Coordenadora de Extensão  na Associação Acadêmica de Cardiologia (AAC), Coordenadora de Mídia na Sociedade Acadêmica Brasileira de Angiologia e Cirurgia Vascular, além de ter formação como jornalista pela Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF).

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