Trauma vascular: conceitos e condutas na emergência

José Mateus de Souza Ribeiro
Universidade Federal do Piauí

No contexto da medicina de urgência e emergência, é muito importante entendermos os protocolos de atendimento ao paciente com trauma vascular. Diversas afecções estão relacionadas com esse tipo de acidente, sendo imprescindível conhecê-las para tomar a devida conduta ao caso.



O trauma vascular é definido pela ruptura dos vasos sanguíneos, podendo causar necrose tecidual por isquemia. A rápida evolução dessa destruição vascular para a morte tecidual determina o caráter de emergência de seu atendimento, sendo importante estarmos atentos para os sinais e sintomas que podem ser manifestados pelo paciente.

A identificação do trauma vascular ocorre, primariamente, pela presença de hemorragia na área lesada, com presença de hematoma, pulso filiforme no membro atingido, palidez e pele fria. Sinais clássicos de hemorragia indicados na literatura são o sinal de Cullen, com equimose na região periumbilical evidenciando hemorragia retroperitoneal, o sinal de Gray-Turner, com equimose na região dos flancos, podendo ser causada por aneurisma roto de aorta abdominal, gravidez ectópica rota ou pancreatite aguda, e o sinal de Guaxinim, com blefaro-hematoma indicativo de lesão de base de crânio – o que, inclusive, impossibilita passagem de sondas nasogástricas.



A apresentação clínica de um paciente com hemorragia envolve sinais e sintomas relacionados ao aporte sanguíneo. Mal-estar, ventilação rápida e superficial, pulso filiforme, hipotensão, pele fria e pegajosa e hipotermia são comuns em processos que envolvem perda de volume sanguíneo no leito vascular. Com relação às hemorragias externas há a saída evidente de sangue, que pode ser de origem arterial, venosa ou capilar. Entre esses três tipos há diferenças significativas. Quando de origem arterial, há um fluxo pulsátil com sangue de cor vermelho-viva jorrando. Já o de origem venosa, apresenta fluxo lento, estável e de cor vermelho-escura. Por fim, o de origem capilar tem fluxo de sangue lento e uniforme.

Além disso, é importante ter conhecimento acerca das condutas adequadas na abordagem ao paciente traumatizado, simplificadas pela sequência ABCDE. A letra “A” corresponde à garantia da via aérea pérvia com controle da coluna cervical. Já a “B” trata do suporte ventilatório com oxigenação adequada. A letra “C” está relacionada à manutenção da circulação e controle de focos de hemorragia. A letra “D” avalia a disfunção neurológica a partir dos padrões da escala de coma de Glasgow, por exemplo. Por fim, a letra “E” compreende a exposição do corpo do paciente com controle da temperatura. Entretanto, apesar de haver essa sequência de condutas, o processo de avaliação do paciente é dinâmico e deve ser realizado periodicamente.


Em casos de hemorragia externa, os principais métodos de controle são a pressão direta no local da hemorragia, o garroteamento do membro lesionado, a elevação do membro e a compressão à distância por pressão indireta. No caso de hemorragias internas, a zona deve ser imobilizada, seguida de aplicação de frio, além de providenciar, o mais rápido possível, a transferência do paciente para o centro cirúrgico, no caso da necessidade de uma laparotomia. Pode ser realizado, ainda, uma ultrassonografia FAST, no caso de instabilidade hemodinâmica, ou uma tomografia de abdome, em casos estáveis, para avaliar a dimensão da hemorragia.


Nos casos mais graves, deve ser administrado oxigênio, até oximetria estabilizar acima de 95%. Em casos de compromisso respiratório (FR < 8 ipm ou > 35ipm), realizar ventilação assistida com insuflador manual. Sinais de choque devem ser constantemente monitorados, iniciando o protocolo de maneira imediata após a possível constatação. A correção rápida dos focos de lesão favorece a reabilitação precoce destes pacientes, evitando complicações futuras como limitações funcionais ou perda permanente do membro.

José Mateus de Souza Ribeiro é acadêmico do 5º período de Medicina da Universidade Federal do Piauí (UFPI), Campus Ministro Reis Velloso, em Parnaíba/PI. É vice-presidente da Liga Acadêmica de Pediatria e Neonatologia, Secretário/Tesoureiro da Liga Acadêmica de Trauma, Urgência e Emergência, Coordenador de Mídia na Associação Acadêmica de Cardiologia (AAC) e membro da Sociedade Acadêmica Brasileira de Angiologia e Cirurgia Vascular.

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